Os paraísos artificiais
Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são prédios altos
com renda muito alta.
Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as árvores.
O cântico das aves - não há cânticos,
mas só canários de 3.ºandar e papagaios de 5.ºandar.
E a música do vento frio nos pardieiros.
Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.
A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.
Jorge de Sena, 1950
sábado, 30 de janeiro de 2021
Encontro com a poesia
Os paraísos artificiais
Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são prédios altos
com renda muito alta.
Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as árvores.
O cântico das aves - não há cânticos,
mas só canários de 3.ºandar e papagaios de 5.ºandar.
E a música do vento frio nos pardieiros.
Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.
A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.
Jorge de Sena, 1950
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